quinta-feira, 27 de julho de 2017


A história da menstruação - Disney


A Walt Disney Company não fez somente desenhos infantis. Durante a II Guerra Mundial, com a forte queda das bilheterias, a empresa tratou de produzir filmes comerciais como o desenho animado educativo que explica a menstruação. “A história da menstruação” é um filme de animação de 10 minutos, produzido pela Disney, em 1946, para a companhia Cello-Cotton International (empresa Kimberly-Clark). Narrado pela atriz Gloria Blondell, o filme explica a menstruação, começando pela função da glândula pituitária, situada na base do cérebro, no crescimento e na maturação dos ovários entre os 11 e 17 anos.


Sinopse do filme “A história da Menstruação” 


A narradora prossegue refutando os tabus que proibiam banhos e exercícios durante a menstruação. “Não há nada de estranho ou misterioso sobre menstruação”, ela avisa e informa que as mulheres podem exercer atividades como tomar banho, montar a cavalo e dançar durante a menstruação. Alerta também contra o que hoje chamamos de TPM (tensão pré-menstrual), aconselhando: “Não deixe que a  menstruação lhe derrube. Afinal de contas, não importa como você se sente, você tem que conviver com as pessoas e com você mesma, também. E se você parar de sentir pena de si mesma e aceitar naturalmente esses dias, você vai descobrir que é fácil manter-se sorrindo, mesmo que moderadamente. Além disso: não se descuide: atenção à postura e evite se resfriar”. Aconselha ainda as garotas a registrarem, em um calendário, o número de dias entre os períodos menstruais. E informa que uma boa postura, alimentos saudáveis ​​e atitudes positivas podem afetar a menstruação.

A divulgação 

Exibido nas escolas de Ensino Médio durante as aulas de Saúde, foi o primeiro filme a usar a palavra “vagina” em seu roteiro. Mas a ênfase se limitava à higiene pessoal e nada dizia sobre sexualidade nem reprodução. O fluxo menstrual foi representado como neve branca em vez de sangue (também nos nossos dias, o fluxo menstrual mostrado nas propagandas não é representado em vermelho, mas aparece na cor azul). Professores e estudantes recebiam um folheto de 20 páginas chamado Very Personally que continha publicidade da Kotex, marca de produtos de higiene feminina cujo mercado era então dominado pela Tampax, absorvente descartável produzido pela Procter & Gamble. Página do folheto “Very Personally”. Página do folheto “Very Personally”.

 A produção do filme “A história da Menstruação” 

O filme era parte de uma série que a Disney produziu para as escolas americanas entre 1945 e 1951 e que, até a década de 1960, foi mostrado para cerca de 105 milhões de estudantes americanas. O ginecologista Mason Hohn foi contratado como consultor para assegurar que o filme apresentasse informações cientificamente precisas aumentando a probabilidade de que médicos, professores e diretores de escolas autorizassem sua exibição. O filme “A história da menstruação” foi criado em uma época que os estúdios Walt Disney enfrentavam sérios prejuízos financeiros. Com a Europa mergulhada na II Guerra Mundial, a Disney perdeu uma fonte significativa de receitas. A animação Fantasia (1940), hoje um clássico consagrado, fora um grande fracasso comercial. Buscando fundos, a Disney começou a criar filmes comerciais como The Right Spark Plug in the Right Place para a Electric Auto-Lite Company e The ABC of Hand Tools para a General Motors.

 E antes do absorvente, como fazíamos? 

O absorvente divulgado no filme surgira havia poucas décadas. Até então, as mulheres usavam as chamadas “toalhinhas higiênicas” em seu período de menstruação, feitas de algodão felpudo, um costume que vinha desde da Idade Média.  Eram reutilizáveis, isto é, a cada uso, deviam ser lavadas antes do sangue secar, evitando ficarem manchadas. Antes das toalhinhas higiênicas, os métodos para conter o fluxo da menstruação variaram: rolinhos de grama (algumas tribos da África), rolinhos de papiro (Egito Antigo), pequenos chumaços de algodão (Roma Antiga), retalhos de tecido com ribas de madeira (Grécia), fibras vegetais (Indonésia) etc. 

A invenção 

O absorvente descartável é uma invenção da I Guerra Mundial (1914-1918). Enfermeiras americanas começaram a utilizar as tradicionais ataduras – aquelas para fazer curativo – para conter seu fluxo da menstruação como alternativa às toalhinhas de algodão. Com o fim da guerra, a fabricante de ataduras Kimberly-Clark patenteou a ideia e, por volta de 1930, passou a vender o produto para civis. Os absorventes Kotex produzidos pela Kimberly-Clark eram presos com alfinetes, cintas ou tinham o formato de uma calcinha. Mas não foi fácil vencer a resistência das famílias conservadoras americanas. O panfleto educativo feito para ajudar as mães a explicar às filhas o que era o fluxo menstrual chegou a ser banido de vários estados norte-americanos. Até que a empresa encontrou nos estúdios Disney um forte aliado para seu marketing. A partir daí a ideia emplacou e se difundiu.

 No Brasil 

A marca Modess fabricada pela multinacional Johnson & Johnson, foi a primeira linha de absorventes descartáveis a ser fabricada no Brasil, em 1945. Mas o mercado era limitado, poucas mulheres adotaram a novidade. Até a década de 1960, as toalhinhas higiênicas para o período da menstruação, ainda eram vendidas nas lojas de artigos femininos. Para conquistar a confiança da consumidora brasileira, a empresa criou uma conselheira feminina, Anita Galvão, que respondia a milhares de cartas de mulheres que, em sigilo, pediam conselhos íntimos e orientações sobre questões sexuais. A marca Modess acabou virando sinônimo de absorvente íntimo feminino.

Nenhum comentário:

Postar um comentário