quinta-feira, 27 de julho de 2017


O oficial japonês que nunca se rendeu



Hiroo Onoda nasceu em Kainan, Japão, em 19 de março de 1922, em uma família samurai (classe guerreira).  Aos 18 anos, alistou-se na infantaria do exército japonês. Enviado para a Escola Nakano, o principal centro de treinamento para inteligência militar e guerra não convencional, Onoda tornou-se um oficial da inteligência do Exército Imperial japonês. Em 26 de dezembro de 1944, ele foi enviado para a Ilha Lubang nas Filipinas para se juntar à Brigada Sugi. O local fica a apenas 120 km a sudoeste da capital, em Manila. A missão do tenente Onoda, descrita em nota pelo major Yoshimi Taniguchi, era a de se manter vivo. Um trecho da nota, em uma tradução livre, dizia que “Isso pode levar três, cinco anos, mas aconteça o que acontecer, nós vamos voltar até você”. A missão de Onoda era dificultar os ataques dos americanos à ilha através de operações de sabotagem e guerrilha, inclusive destruir o campo de pouso e o cais no porto. Suas ordens também enfatizavam que ele, sob nenhuma circunstância, deveria se render ou suicidar-se. Quando a ilha foi recuperada pelos aliados, em 28 de fevereiro de 1945, a maioria das tropas japonesas morreu ou foi capturada pelas forças americanas. Onoda e outros homens, porém, esconderam-se na selva densa e continuaram sua campanha contra o inimigo. Em 02 de setembro de 1945, com a rendição do Japão, os americanos trataram de avisar o fim da guerra aos milhares de soldados japoneses espalhados por todo Pacífico. Para isso, aviões lançaram folhetos informando o fato. O general japonês Tomoyuki Yamashita, do 14º Exército da Área, emitiu um pedido de rendição que também foi produzido em massa e lançado dos céus. Onoda e seus homens não acreditaram. Estavam convencidos de que era uma estratagema para levá-los a se renderem, o que nunca fariam. Onoda e outros três soldados continuaram vivendo nas montanhas cumprindo a missão que receberam: sabotagem e guerrilha. Sobreviveram roubando arroz e bananas de moradores locais e abatendo vacas para obter carne. Isso provocou uma série de confrontos com a polícia e civis, na sua maioria agricultores. À medida que o número de mortos aumentava, a caçada ao japonês se intensificou. Para os soldados japoneses escondidos na selva era prova de que a guerra continuava sendo travada. Um deles, contudo, acabou se rendendo às forças Filipinas em 1949. Desesperado para detê-los, o governo japonês enviou mais panfletos em 1952. Desta vez com fotos e mensagens de suas famílias. Onoda novamente concluiu que era outro truque. Os confrontos continuaram e dois soldados foram mortos em escaramuças com as forças locais, em 1954 e em 1972, deixando Onoda sozinho nas montanhas. Em 1960, Onoda foi declarado legalmente morto no Japão. Hiroo Onoda volta ao mundo Foi Norio Suzuki, um jovem explorador e aventureiro japonês, que conseguiu chegar até o tenente Hiroo Onoda. Ele tinha por objetivo “achar Onoda, ver um panda e descobrir o Abominável Home das Neves”,  nessa ordem. Em 20 de fevereiro de 1974, Suzuki realizou seu primeiro desejo: encontrou Onoda que usava um uniforme militar esfarrapado na ilha Lubang, nas Filipinas. O oficial japonês estava prestes a atirar em Suzuki à queima roupa, mas o jovem rapidamente lhe disse: “Onoda-san, o imperador e o povo do Japão estão preocupados com você”. Onoda abaixou a arma e aceitou ouvir Suzuki. Desconfiado, Onoda impôs uma condição para baixar armas: receber ordens diretamente de seu oficial superior, o Major Yoshimi Taniguchi. Suzuki se prontificou a ajudar e retornou ao Japão com fotografias de si mesmo e de Onoda como prova de seu encontro.


Norio Suzuki, à esquerda, e Hiroo Onoda, no célebre encontro que trouxe o oficial japonês de volta ao mundo, vinte e nove anos depois.


O governo japonês encontrou o Major Yoshimi Taniguchi, que havia se tornado um livreiro, e o enviou a Lubang cumprindo, assim, a promessa de que o buscariam, houvesse o que houvesse. O major informou a Onoda da derrota do Japão na II Guerra e lhe ordenou depor armas, dispensando-o de todas as obrigações militares. O tenente Onoda foi, assim, devidamente isentado do dever e, portanto, jamais se rendeu. Saiu da selva 29 anos após o fim da II Guerra Mundial vestindo seu uniforme e espada, portando seu rifle Arisaka 99, ainda em condições operacionais, e com 500 cartuchos de munição e diversas granadas de mão, bem como a adaga que sua mãe havia lhe dado em 1944 para proteção. Embora tivesse matado aproximadamente trinta filipinos locais e realizado diversos tiroteios com a polícia, as circunstâncias destes eventos foram levadas em consideração da situação, e Onoda recebeu o perdão do presidente filipino Ferdinand Marcos. Onoda se mudou para o Brasil, onde se tornou um fazendeiro de gado em uma colônia agrícola em Terenos, Mato Grosso do Sul. Publicou uma autobiografia, No surrender: my thirty-year war (no Brasil, publicado com o título “Sem rendição”), detalhando sua vida como um combatente de guerrilha em uma guerra há muito tempo terminada. Revisitou a Ilha de Lubang em 1996, doando 10.000 dólares para a escola local. Casou-se com uma japonesa e voltou para o Japão, para administrar um acampamento para crianças, mas voltava com regularidade ao Brasil. Faleceu em 17 de janeiro de 2014, em Tóquio, aos 91 anos de idade. Quanto ao aventureiro Norio Suzuki, ele realizou seu segundo desejo: encontrar um panda selvagem. Afirmou ter descoberto um yeti, o Abominável Homem das Neves, nas montanhas Dhaulagiri, no Himalaia, Nepal, em julho de 1975. Mas como o teria visto distante, retornou à sua missão. Acabou morrendo em uma avalanche enquanto procurava o yeti,  em novembro de 1986, aos 37 anos de idade. Seus restos foram descobertos um ano depois e retornaram à sua família.




Hiroo Onoda, depois de entregar suas amas, é conduzido de volta ao Japão, em 1974


Hiroo Onoda (à direita), oferece sua espada militar ao presidente filipino Ferdinand Marcos (à esquerda), no dia da sua rendição, em 11 de março de 1974.

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